segunda-feira, 10 de março de 2014

Entidades batalham para compensar deficiências na oferta de qualificação em SST

Beto Soares | Estúdio Boom
Data: 09/01/2014 / Fonte: Revista Proteção


Ir além da graduação formal, qualificar-se e fazer frente às demandas cada vez mais exigentes do mercado. Estas são as intenções de grande parte dos profissionais que atuam no setor de Saúde e Segurança do Trabalho. Porém, a vontade é confrontada com restrições como a ausência de cursos fora do eixo das grandes capitais e a oferta reduzida de graduação, pós-graduação, especialização ou extensão de qualidade assegurada.

Para compensar as deficiências, entidades de classe procuram promover ou pelo menos apoiar uma agenda de cursos e eventos voltados tanto para seus membros como para outros segmentos, enquanto gestionam junto aos órgãos competentes a melhoria da formação dos cursos oficiais.

A Fenatest (Federação Nacional dos Técnicos de Segurança no Trabalho) está sugerindo um exame de proficiência para auferir a qualidade dos cursos; a Anamt (Associação Nacional dos Médicos do Trabalho) está reorganizando o seu Centro de Estudos Avançados em Medicina do Trabalho devido ao processo de revisão e atualização das competências básicas requeridas para o exercício da profissão, e a Anest (Associação Nacional dos Engenheiros de Segurança do Trabalho) está aguardando a audiência pública da Câmara de Educação Superior do MEC sobre o pedido de alteração da grade curricular do curso de pós-graduação de Engenharia de Segurança do Trabalho.

Em paralelo, instituições de ensino buscam oferecer a qualificação necessária para ampliar os horizontes dos profissionais quanto à sua qualificação. Seja com métodos presenciais ou à distância, o objetivo é oferecer conteúdo que atenda às novas demandas por mais conhecimento. Porém, há sempre que se ter cuidado na escolha, informando-se para que o currículo, estrutura e corpo docente estejam dentro dos padrões de qualidade e o investimento possa dar o retorno desejado.

A qualificação dos profissionais de Segurança do Trabalho está entre as maiores preocupações do presidente da Fenatest (Federação Nacional dos Técnicos de Segurança do Trabalho), Armando Henrique, que não esconde sua indignação já desde a formação do técnico. Segundo ele, este profissional tem frequentado cursos de qualidade duvidosa, cuja quantidade supera a demanda em um mercado que não cresce e que virou um grande negócio.

Para mudar este quadro, o dirigente sugere a abertura de um exame de proficiência, mesmo não obrigatório, para auferir a qualidade dos cursos, mesmo sem a concordância do MEC (Ministério da Educação e Cultura). A avaliação seria feita com a parceria dos sindicatos locais, Ministério do Trabalho, Fundacentro e Conselhos Regionais e Federais de Educação. Segundo ele, é questionável a qualificação do corpo docente, que mesmo com títulos de formação teórica, precisa ter sincronia com as atividades ligadas ao exercício da profissão.

"Ele vai para o canteiro de obras com um livro na mão, sem ter tido contato com a realidade", critica. Segundo ele, é condenável uma escola que não tenha laboratório. "Só este fator eliminaria 50% das escolas. Porém, os Conselhos Estaduais mal fiscalizam", acusa. Outra questão que inquieta a entidade são os estágios, cuja carga é de 400 horas. Porém, as empresas não abrem espaço e o aluno precisa simular uma situação real em sala de aula.  "Mas com quais critérios esta simulação é feita"?

Henrique destaca ainda que segmentos como higiene, ergonomia, avaliação ambiental, assistência social e noções de relacionamento deveriam ter maior participação nas disciplinas do curso de Técnico de Segurança do Trabalho. "Uma das grandes falhas dos cursos é não oferecer aulas sobre relacionamento. Cerca de 70% dos técnicos perdem o emprego ou seu cliente porque não sabe relacionar-se com os trabalhadores ou com a direção. É traumático porque o profissional deve ter uma relação vertical e horizontal nas corporações e para isto ele precisa saber lidar com todos os públicos", expõe.

Mapeamento

Henrique anuncia que a Fenatest projeta fazer um mapeamento das escolas que oferecem o curso de Técnico de Segurança do Trabalho no país, avaliando a sua qualificação e criando uma grade indicativa. "Os profissionais precisam se manifestar e informar tanto sobre os cursos bons quanto os ruins". Ele cita o Sistema S (Senac, Senai e Sesi) como referência de cursos de qualidade, tanto de graduação como de capacitação. "O Sistema S oferece estrutura, instrumentos e rigidez na formação", destaca.

O técnico de Segurança do Trabalho, Cosmo Palásio de Moraes Junior, diz que muitas escolas são frágeis em termos de equipamentos e meios para práticas e isso em Segurança e Saúde no Trabalho pode ter implicações bastante complexas. Há também a pouca valorização aos que ensinam. "Em muitos casos dar aula é "bico" e quando isso é tratado deste modo não pode dar bom resultado", opina. Quanto às demandas atuais, ele salienta que, de certa forma há um atraso na forma como a Segurança e a Saúde no Trabalho é tratada e o que se ensina está compatível com isso.

Reportagem de Elizabeth Renz

Confira a reportagem completa na edição de janeiro da Revista Proteção.

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