terça-feira, 12 de junho de 2012

Grave acidente durante fiscalização rural expõe riscos e más condições de trabalho



Auditores-Fiscais do Trabalho relatam grave acidente automobilístico ocorrido durante o curso de ação fiscal na região de Unaí (MG) com Policiais Rodoviários Federais que acompanhavam a equipe. Foi, na opinião da equipe de Auditores-Fiscais, um típico acidente de trabalho depois de extensa jornada.
No mês de maio, uma equipe de quatro Auditores-Fiscais do Trabalho da Gerência Regional do Trabalho e Emprego – GRTE de Paracatu (MG), tinha uma semana cheia, com o objetivo de fiscalizar vinte estabelecimentos rurais nos municípios de Buritis e Unaí. A meta do ano é de 220 fiscalizações na região. Alfeu Hassan, Antônio Braga, Pedro Coelho e Thiago Moraes foram a campo acompanhados pelos Policiais Rodoviários Federais Pimentel e Salgado.
Fiscalizar fazendas na região, segundo os Auditores-Fiscais, não é tarefa fácil, pois, muitas propriedades são de grande extensão e em áreas afastadas dos centros urbanos, demandando muito tempo de deslocamento.
No dia 21 de maio, uma segunda-feira, o grupo fiscalizou fazendas no município de Buritis, e dormiram na cidade, após cumprir uma jornada de cerca de 12 horas de trabalho. No dia seguinte, 22 de maio, a equipe saiu às 7 horas para realizar várias diligências e na última, uma fazenda em local de difícil acesso, foram constatados vários problemas trabalhistas, que exigiram muito tempo da equipe, prolongando a fiscalização até a noite. Depois do trabalho, por volta das 20 horas, decidiram ir para Unaí, onde há uma agência do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE, local apropriado para receber os representantes dos empregadores para verificar documentos.
Na estrada, duas caminhonetes do MTE, conduzidas pelos Auditores-Fiscais do Trabalho, iam escoltadas pela viatura do Núcleo de Operações Especiais da Polícia Rodoviária Federal. Cerca de 140 Km depois, já próximos a Unaí, os Auditores-Fiscais perceberam a ausência dos faróis da viatura e reduziram a velocidade. Depois de alguns minutos, como a viatura não aparecia, decidiram retornar na estrada e encontraram o quadro de um trágico acidente. A viatura havia batido na cabeceira de uma ponte.
Com as caminhonetes eles fecharam a pista nos dois sentidos para evitar novos acidentes e foram dar os primeiros socorros aos policiais Pimentel e Salgado. Pimentel, que era o condutor da viatura, já havia saído do carro e estava deitado no chão. Salgado ainda estava no interior do veículo, aparentemente preso às ferragens. O carro, muito danificado, estava escorado em uma árvore que impedia a abertura da porta do lado do passageiro, correndo o risco de cair na lateral da pista.
Pelo telefone celular os Auditores-Fiscais ligaram para o Corpo de Bombeiros, para a Polícia Militar e para a Polícia Rodoviária Federal. O Corpo de Bombeiros foi o primeiro a chegar ao local do acidente e a ambulância levou o policial Pimentel para o hospital em Unaí, acompanhado do Auditor-Fiscal Alfeu Hassan. Os bombeiros fizeram o resgate do policial Salgado e a segunda ambulância também o levou para Unaí, em companhia do Auditor-Fiscal Thiago Moraes. Antônio e Pedro permaneceram na estrada fazendo a guarda das armas e aguardando a chegada da Polícia Militar e da perícia.
O estado de saúde dos policiais levou os médicos a decidir levá-los para o Hospital de Base de Brasília, para onde foram transferidos imediatamente. Pimentel sofreu fraturas nas costelas, na bacia e na perna esquerda. Salgado, em estado mais grave, tinha uma hemorragia abdominal e foi submetido a uma cirurgia naquela madrugada, e também no dia seguinte.
Felizmente, os dois policiais já estão fora de perigo. Pimentel está em casa, vai se recuperar das fraturas com fisioterapia. Salgado também se recupera dia a dia, com o apoio da família no Hospital Regional de Samambaia (Distrito Federal).
Acidente de trabalho
Para o Auditor-Fiscal do Trabalho Antônio Braga, o episódio se constitui um “trágico e típico acidente de trabalho”. Ele constata que os Auditores-Fiscais do Trabalho vivem uma contradição, pois aprendem nos treinamentos que acidente de trabalho “nunca é nem será fatalidade” e que a pressão por produtividade quase sempre resulta em jornadas exaustivas que a fiscalização tenta reprimir para evitar acidentes e adoecimentos. No entanto, foi exatamente isso que aconteceu com os policiais que acompanhavam os Auditores-Fiscais do Trabalho que, com metas muito altas a serem alcançadas e, sem pessoal suficiente, precisam se desdobrar em longas jornadas para cumpri-las. O empregador, no caso o Estado, foi negligente.
“Espero que o triste episódio possa ajudar no reconhecimento de nossas atividades, mais especificamente o reconhecimento de que precisamos de melhores condições de trabalho que há tempos buscamos para a carreira da Auditoria-Fiscal do Trabalho e, também, para a carreira da Polícia Rodoviária Federal”, comenta Antônio Braga, acrescentando que todos os Auditores-Fiscais envolvidos na ação ficaram muito abalados e não esquecerão as cenas chocantes tão cedo.
O Sinait prestou solidariedade à família dos policiais acidentados por meio de telefonema da presidente Rosângela Rassy. Ela lembra que a campanha institucional da entidade este ano é justamente para alertar sobre o grande número de acidentes de trabalho no Brasil e a necessidade de aumentar o quadro de Auditores-Fiscais do Trabalho para fiscalizar as condições de segurança e saúde nos locais de trabalho. “Mas também os Auditores-Fiscais do Trabalho precisam de melhores condições de trabalho”, diz a presidente. “Muitos colegas estão adoecendo, estão afastados com stress, depressão, síndrome do pânico e outras doenças, por causa do excesso de trabalho, da pressão pelo cumprimento de metas que aumentam enquanto o nosso contingente só diminui, a cada dia”.
Rosângela constata que apesar das nomeações do último concurso público, aproveitado ao máximo, o número de Auditores-Fiscais, hoje, não passa de três mil, por causa das aposentadorias e da migração de colegas para outras carreiras. “Não saímos do lugar, continuamos da mesma forma, e corremos o risco de minguar ainda mais, pois existem cerca de 600 Auditores-Fiscais do Trabalho já recebendo o Abono de Permanência, em condições de se aposentar a qualquer momento”, alerta a presidente.

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