segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Operários dos frigoríficos preparam paralisação


 


Operários dos frigoríficos preparam paralisação nacional para o primeiro semestre


Presidente da Contac, Siderlei de Oliveira afirma que dinheiro público não pode continuar financiando epidemia de lesões e mutilações
O ritmo intenso e acelerado de trabalho nos frigoríficos, somado à ausência de pausas, às péssimas condições ergonômicas e às baixíssimas temperaturas das salas de corte têm provocado uma verdadeira epidemia de doenças profissionais no setor, o que fez com que as entidades sindicais entrassem em alerta diante da magnitude do problema e forçassem as autoridades a constituírem um Comitê Técnico Tripartite para construir uma Norma Regulamentadora (NR). Em entrevista ao Portal do Mundo do Trabalho, o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Alimentação (Contac/CUT), Siderlei de Oliveira, fala sobre a importância da NR para combater a tragédia que desaba sobre os trabalhadores do setor. "Para eliminarmos a epidemia e reduzirmos as doenças profissionais precisamos de três ações fundamentais: reduzir o tempo de exposição ao trabalho penoso ao ritmo acelerado, repetitivo e insuportável; pausas de 10 minutos a cada 50 minutos trabalhados para que as bainhas dos músculos e as articulações sejam lubrificadas a partir da recuperação do líquido sinovial, sem o que ocorrem sérias lesões osteomusculares e finalmente, mas tão importante quanto as demais, a participação das entidades sindicais no controle e fiscalização da norma", destacou Siderlei.

Como está o debate sobre a Norma Regulamentadora do setor frigorífico?

Diante da situação de calamidade que se abateu sobre os trabalhadores do setor, conseguimos sensibilizar o governo para a necessidade da constituição de um Comitê Técnico Tripartite que construísse um documento para pôr fim aos abusos e garantir condições minimamente dignas. Assim, procuradores do trabalho, técnicos da Fundacentro e do Ministério do Trabalho, ao lado de dirigentes sindicais dos trabalhadores e empresários, debatemos propostas que foram apresentadas a uma consulta pública e que deveriam ser transformadas em lei. Diante da constatação da necessidade de medidas de impacto para preservar a saúde dos trabalhadores, o presidente da União Brasileira de Avicultura (Abubef), o senhor Francisco Turra, que foi ministro da ditadura militar, passou a atacar o grupo técnico. Difamando o corpo técnico, ao qual chamou de incompetente, ele inviabilizou a última reunião, que se encerrou sem discutir o documento final que vai normatizar o ambiente de trabalho nos frigoríficos. Depois disso, uma das exigências do grupo foi que o senhor Turra se retratasse, o que foi feito recentemente.

Quais são as principais propostas do corpo técnico, com o aval dos sindicalistas?

Nossa avaliação é que para eliminarmos a epidemia e reduzirmos as doenças profissionais precisamos de três ações fundamentais: reduzir o tempo de exposição ao trabalho penoso ao ritmo acelerado, repetitivo e insuportável; pausas de 10 minutos a cada 50 minutos trabalhados para que as bainhas dos músculos e as articulações sejam lubrificadas a partir da recuperação do líquido sinovial, sem o que ocorrem sérias lesões osteomusculares e finalmente, mas tão importante quanto as demais, a participação das entidades sindicais no controle e fiscalização da norma.

Daí a indignação do empresariado...

Os ataques partem de todos os lados. Há um deputado do PTB que inclusive propôs um projeto de lei, que se encontra em fase de votação na Câmara, que coíbe a ação do Ministério Público nos ambientes de trabalho. O mais engraçado é que os mesmos empresários que são altamente beneficiados pelo Estado com recursos do BNDES via FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) falam que os trabalhadores querem se ingerir em assuntos privados da empresa. Mas quando é para pegar bilhões de dinheiro público, recursos dos trabalhadores, para comprar novos maquinários ou até mesmo abrir empresas fora do país, aí precisam do nosso capital. É uma mentalidade mais do que atrasada, é extremamente oportunista, arcaica. Diante deste comportamento, nos preocupa muito a falta de atuação governamental, o desleixo com que o Estado tem tratado esta questão.

Em que ponto os órgãos governamentais deveriam agir com mais eficiência?

Na questão previdenciária, por exemplo, é necessária uma maior atenção dos órgãos públicos de arrecadação. O dinheiro arrecadado pela Previdência Social com os frigoríficos não é nem metade do que é gasto com os doentes e inválidos provocados por esta mesma indústria.

A paralisação nacional vem para servir como alerta para este descalabro e cobrar uma ação mais enérgica...

Exatamente. Pois é inadmissível a situação continuar do jeito que está, são milhares de doentes, um enorme contingente de trabalhadores que vem sendo jogado à margem, enquanto os lucros destes conglomerados não para de crescer. E o pior é que diante da menor oscilação do mercado, quem paga é o trabalhador, com desemprego em massa, como ocorreu recentemente com a mesma JBS Friboi que vem sendo tremendamente beneficiada pelo BNDES. Os salários também são muito baixos perto do tamanho da ajuda que é recebida do FAT. A paralisação nacional vai expor o problema e cobrar soluções. A Norma Regulamentadora não resolverá tudo, mas é uma ferramenta que o movimento operário terá nas mãos para melhorar substancialmente as condições do ambiente de trabalho. O argumento do senhor Francisco Turra é que investir em ganhos para a saúde do trabalhador vai trazer prejuízos à Nação e aos frigoríficos e que tudo pode ser reduzido, menos os ganhos das empresas. Nós vamos ampliar a luta e a mobilização, pois a sede de lucro fácil do capital não pode falar mais alto do que a vida humana.

Fonte: CUT

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